A JUVENTUDE DE ÁFRICA QUE SONHA


A JUVENTUDE DE ÁFRICA QUE SONHA

AS CORES DA POESIA DESENHADA
Por: Ed Mulato

Novamente a África mostra sua pujança. Agora, nas artes de gente jovem, como jovem é a soberania de Moçambique.
Liberta, a criatividade da arte desta juventude extremamente criativa, surge como que do nada, para encantar quem com ela se encontra.
Assim nos novos poetas. Novos, na idade. Talvez. Mas, maduros no enxergar a vida, no atirar esperança aos olhos de quem duvida, a esfregar, na cara dos céticos, a insensatez de sua desesperança.
“Sou muito da África que sonha”, escreveu Morgado Mbalate; pois também sou muito da África que sonha, posto que africano. Apenas, nascido no outro lado do Atlântico.
Será, Morgado, meu parente? Como africano da diáspora, é coisa que não sei.
Mas sei que, com certeza, Morgado está entre os malungos que tanto prezo; é meu irmão de pensamento, de dedicação às africanidades, que esperamos demonstrar em arte. Assim também Cecília Dimande, Obedes Lobadias, Celina Sheila, Hirundina Joshua e tantos outros mais, irmãos desconhecidos. Mas que, ansioso, ainda espero conhecer.
É este povo novo deste antigo Moçambique, meus irmãos mal conhecidos, que levam a crer que tem razão a filósofa Viviane Mosé, quando afirma que “as doenças são poemas que não foram escritos”. Posto que o poema é a essência da alma.
Alma que João Timane capta com maestria e sensibilidade, posto que transforma, em telas leves, mas portadoras de insuspeitada força, a alma dos poetas que escuta.
É sem dúvida que as telas de Timane contêm a juventude de Morgado, Hirundina, Celina. Mas, não perdem o lúdico de Mia Couto, nem a combatividade de Paula Chizane e Craveirinha.
Timane, com seus traços ambíguos, interpenetrados, parece querer confirmar, em suas telas, a receptividade da alma africana a todos os que dela se aproximam. Mas, não perde a referência que, em contrapartida, a alma africana também não abandona quem por perto dela passa, posto que se torna amalgamada à essência destes aproximados, por incautos ou não.
É entre seus traços sinuosos, cores fortes que contrastam com amarelos desmaiados, sombras desenhadas de figuras que se perdem no fundo das telas como se perdidas no fundo do mundo, que se apresentam as inesperadas expressões de espanto e medo, mas de espanto em êxtase.
Assim como Picasso, Timane – ou será Picasso, como Timane? – distorce e reconstrói, expressa e esconde, ambiguamente, como o faz a alma humana. 
Também aqui, a expressão nem sempre expõe o sentimento. Mas, externamente, é com muita força que o sugere, expõe, representa.
Timane e Morgado. As cores e as letras. 
Morgado e Timane: a poesia, enquadrada na força das cores.
Das cores da poesia desenhada.

joão Timane

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Esta excelente, parabéns.

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