TIMANE PINTA MOÇAMBIQUE E O MUNDO


João Timane





Nasceu a 05 de Dezembro de 1991 e cresceu no bairro do Aeroporto, periferia da cidade de Maputo, um bairro de muitos artistas virados para a pintura, alguns dos quais é o embondeiro, Malangatana que vive a escassos minutos da casa do artista, para além de Lindo Lhongo, um dos precursores do teatro escrito moçambicano (pai do poeta Sangare Okapi). Mas é ao lado da sua porta que vive um homem brusco, faz parte dos vulgarmente conhecidos como artistas de rua, mas para João um grande pintor e seu mestre, chama-se Macasaco, “o maior artista de rua, seus quadros estão espalhados pelo mundo inteiro”, conta.
Ele recebeu-me em sua casa sem apresentar-me aos verdadeiros donos, provavelmente seus pais. Pelos seus próprios cânones pisei os chãos húmidos do pequeno quintal com uma árvore seca no centro. Bem afrente ao portão está o atelier de João Timane Artes, como se identifica. Mas antes ele contempla o além, e com uma voz ténue conta-me: “aquela árvore me inspira. É a mais cumprida do bairro”. E o pinheiro agradece os elogios do artista que certamente, pinta o que os seus finos ramos bamboleantes dizem na claridade das 10:45, em que me recebe o artista. “Geralmente, nós, os artistas enquanto pintamos as imagens vão aparecendo, são imagens gravadas. Estaria a mentir se dissesse que o que me inspira são as paisagens, o povo a caminhar… não.” Adverte-me para que não me perca no contesto da árvore.
E o que te inspira? – Música. 
E no seu ateliê, estão penduradas na parede, quadros antigos que crescem consigo. Noutro compartimento, tem a sala sagrada, lá onde pinta os seus quadros, é preciso que se vista de chapéu preto, este que o torna um criador de espelhos de almas no momento de pintura.
A preocupação de João Timane é sempre criar, mas criar sem insistência. É como se tudo fosse possível para o artista, sendo assim desnecessário qualquer recurso à transpiração. A preocupação de João é pintar só e, como o poeta, traduzir a linguagem da alma e seguir a vontade dos dedos. 
As suas cores são constantemente transformadas com os olhos de quem vê seus quadros. Ele mesmo está a busca de explicação para a sua forma de pintar ou de lançar a tinta à tela, igual ao homem que o inspira Jackson Pollock, artista norte-americano que desenvolveu a técnica de pintura, o dripping, na qual respingava a tinta sobre suas imensas telas.
Desde sempre João despontou para as artes, quando bebé, os seus primeiros paços eram uma tentativa de estar perto do que considera seu mestre, o Macasaco que vive mesmo ao lado da sua casa. Mas este não o deixava fazer mais do que sentir o cheiro das tintas dos quadros que tinham destino à rua. “Ele dizia para dedicar-me à escola e que não devesse me meter na pintura”. Tudo em vão, João, sempre que podia jogava-se no quintal do seu vizinho e bebia a técnica que se deve pôr às cores, até que Macasaco disse “sim rapaz”, e assim ele aprendeu a fazer mais com as suas mãos.

PINTAR O ÚTERO E A CLARIDADE

De Macasaco a João Paulo Keha – outro emblemático artista plástico moçambicano – João Timane vai escrevendo nas suas telas a história contemporânea de Moçambique e do mundo com cores diversas, sempre tendendo chegar à claridade. 
João Timane junta o facto de África ser um continente tricolor e o berço da humanidade, para justificar as suas cores e imagens. Há um subconsciente insistentemente assente nas suas obras. O azul e o laranja sufocam o vermelho que já foi sangue, e o preto que já foi o sabor das trevas. Talvez porque pinta ou aos sons de Ali Faque, voz limpa e serena, ou porque trança os cabelos femininos como no sabor melancólico de “as tuas tranças” de José Mucavele. Uma conjugação de todo modo não convincente para a mulher que persiste mostrar-se com rosto velado no rico trabalho do pintor.
Ele mesmo não entende porque vem aos seus quadros, que levam milénios de noites para se aprontar. Quem é ou quem são essas mulher?
Este mesmo João é capaz de pintar e vender tudo, mas nunca vende “o primeiro passo”, quadro que ilustrou do poeta L. Mukurruza que também dava seu primeiro passo, curiosamente com o título “Vontades de partir e Outros desejos”. Mukurruza fala do desejo da morte, mesmo temendo-a e respeitando-a como a ilustre desconhecida e João Timane, prefere o recuo, talvez porque conhece as cores da vida, o azul que não arreda das suas telas.
Ou então, por se tratar de um artista contemporâneo que já não cabe no espaço da própria contemporaneidade, as suas cores precisem de outra interpretação. Uma interpretação para além das vozes limpas e serenas, se calhar um ouvido que se forma ao dedilhar de Jimmy Dludlu, “Linda”, uma mistura de amor e saudade ou um querer inesgotável. Também se entende quando Ivan Mazuze sopra “Celina”, curto e emotivo.
Toda interpretação da rica obra de João Timane deve ser mulata ou mestiça. Afinal ele mesmo ao afirmar que “inspira-se na música” já mais se referiu ao estilo, mantém-se isento das preferências, para não vaticinar a um único destino os seus quadros. E no meio do desassossego chego a conclusão de que as suas obras são verdadeiros presentes de Deus todo-poderoso, no qual João acredita.

Eduardo Quive.
Activista cultural, jornalista - editor do jornal Dossiers & Factos
  




    
Confira as mais recentes pinturas do artista.

A mãe dos gémeos

Nós somos a geração digital 2


Explode Coração

Serenata ao amanhecer

O Pão Nosso

Retrato Do Madiba e Graça Machel

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O Café da Manhã

Lembranças duma infância corrompida

A cozinheira de Cantanhede


A Vizinha das Badjias

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 QUEM SÃO ESTAS MULHERES PRESENTES EM DEMASIA NA ARTE DE JOÃO TIMANE?




joão Timane

3 comentários:

  1. Aprecie bastante a ideias. Parabens.

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  2. Parabens, plataforma eficiente para acompanhar-te

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  3. Li atentamente este artigo que retrata bem o Homem e o Artista João Timane. Sou uma privilegiada porque tenho o orgulho e o prazer de o conhecer pessoalmente aquando da vinda a Portugal em março passado, para estar
    presente no lançamento do meu livro de poesia "A Pele do Capim", com ilustrações do João Timane e, onde decorreu, em simultâneo, uma exposição dos seus quadros que foi um autêntico sucesso. Quero ainda referir que estas suas mais recentes obras são uma verdadeira "delicia" se assim me posso exprimir! Parabéns João.

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Esta excelente, parabéns.

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